quarta-feira, 20 de julho de 2011

MOMENTOS 31


19 de Julho de 2011 (noite)


Era uma vez uma princesa do Norte chamada Ghandarhi que por muito tempo viajou até ao reino de Dhritharashtra, o rei cego. O seu casamento tinha sido arranjado e viveu em retiro até ao dia de seu casamento. A sua aia, que visitava a cidade, trazia-lhe as novidades e explicava-lhe todas as maravilhas que nela encontrava.

- Princesa, vi o seu futuro esposo, ele é forte e poderoso mas a minha senhora foi traída. Dhritharashtra é cego, assim nasceu.

E a princesa disse que tal é impossível pois nenhum rei o pode ser sem o sentido da visão. Se tal fosse verdade só poderia reinar sobre a noite no meio dos lamentos dos enfermos. Se tal fosse verdade de que serviriam as cores de seus vestidos pois seu futuro esposo nunca as verá. Se tal fosse verdade, de que serviria o seu cabelo, a sua carne e a sua pele e os seus olhos.

- Dá-me o meu véu aia, pois com ele cobrirei meus olhos e tu serás a última das minhas visões neste Mundo. Leva-me agora até meu senhor.

E a aia obedeceu e levou a princesa até ao esposo que lhe acariciou o rosto, os ombros, o cabelo e o seu cheiro assimilou.

Em breve Ghandhari sentiu vida dentro de si mas parecia que nenhuma queria vingar. E sabendo pela aia que Kunti dera à luz Yudhishira pediu-lhe que esta lhe batesse na barriga com uma barra de ferro e que o fizesse com todas as forças que possuísse. Ghandhari deu à luz uma bola de carne escura e fria como metal, inerte e sem vida.

- Leva essa bola para bem longe de mim, atira-a a um poço sem fundo e deixa-me em paz!

Mas Vyasa, o que foi nascido depois de gerado no meio da neblina, disse à aia para cortar a bola em cem pedaços e que os colocasse em cem delicadas jarras de cerâmica e os regasse com água fresca todas as manhãs. Aproximando-se depois de Ghandhari lhe disse que dessas cem jarras nasceriam cem filhos sendo que o primeiro se chamaria Duryodhana. E os seus gritos foram escutados pelo pai na companhia de Bhishma que lhe comunicou ter o seu filho primogénito vindo ao Mundo com o intuito de o destruir. Se Dhritharashtra desejasse salvar a raça dos homens teria de o sacrificar.

Ghandhari disse que ninguém se atreveria a matar o seu filho sem que antes a matassem para o conseguir.

Madri recebeu o primeiro dos dias de Primavera acompanhada do esposo que observa a sua beleza esplendorosa. Atrevendo-se a tocar-lhe sem ter em conta a terrível maldição lançada pelas gazelas, atrevendo-se a desejar o Amor preferindo-o à própria vida, tentou vencer a morte que o seduziu. Pandu correu atrás de Madri que fugiu para tentar evitar a morte do esposo sem sucesso. Os dois se deitam no chão florido, se amam acabando Pandu por fenecer.

Madri foi ter com Kunti culpando o destino pelo sucedido, ao que Kunti respondeu ter sido Madri mais feliz do que ela pois observou o rosto brilhante de desejo do esposo Pandu que agora irá acompanhar na sua viagem final. Mas Madri pretende ser a companheira na viagem final por ter sido com ela e por ela que Pandu caiu. Entregou seus filhos à guarda de Kunti pois já não possuem pai neste Mundo.

- Serão como meus próprios filhos e tudo connosco partilharão,

E os corpos de Madri e Pandu foram cremados e o fogo os transformou e mais de vinte anos passarão até que a história possa ter continuação.

E Larniki, perdido no centro do reino de todos os silêncios, escuta a história primeira de entre todas as histórias, acrescentando-lhe as partes necessárias para que dela possa agora fazer parte.

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