sábado, 16 de julho de 2011

MOMENTOS 29




13 de Julho de 2011


Porque procura o tempo este reino para descansar?

É fácil cair, nunca aqui chegar.

Os que nele moram desejam manter o equilíbrio do reino como sempre existiu. Preservar a natureza, as tonalidades que a envolvem, as montanhas sagradas que não se podem profanar.

O país pertence-lhes, como o céu que o cobre, como as montanhas que o protegem, como as florestas que lhe permitem respirar. Caminhos muito difíceis fazem com que este seja um reino distante, longínquo e raro de visitar. Aqui as histórias, como o tempo, chegaram para repousar.

Assim que percorremos os primeiros trilhos somos envolvidos pela magia da diferença, por uma luz que inebria, por sons extasiantes e passamos a ser parte do reino misterioso, parte das montanhas, parte deste céu que nos cobre, parte dos seus prados, das suas florestas e dos seus rios.

Por momentos esquecemos todos os momentos, como se a magia contida na sagrada marca azul tivesse sido por mim invocada, e o tempo parou.

Este é o reino onde a marca teve o seu início. Os sentidos ficam mais activos e, por breves instantes, isolado como uma ilha no centro da planície verdejante, senti-me o primeiro habitante do planeta.

Sou o primeiro dos seres-humanos, aquele onde a primeira história habitou. Em mim plantaram todas as dúvidas para que a sobrevivência fosse possível.

Já me perdi estando longe no meio do nada, mas tu abraçaste-me, vieste em meu auxílio e iluminaste-me com o teu sorriso. Com tudo a ganhar, caminhar era a única solução. Avançar, utilizar a sagrada marca azul para dar início à primeira de todas as histórias.

Aqui sinto-me verdadeiramente em casa.

Amanhã vou acordar em casa, sozinho ao sol, como ilha, beber destas águas cristalinas de quem já tinha saudades, ler as mensagens contidas em cada árvore, meditar na sua sombra hoje que o sol veio temperar a sagrada marca azul.

Neste reino não existe culpa, os caminhos que se percorrem providenciam recordações dos tempos das primeiras histórias.

Meditei nestas florestas pelo tempo de sete vidas.

Mantive a minha existência camuflada e percorri todos os caminhos do reino, transformei-me no céu que o cobre, nas montanhas que o protegem e até nas florestas onde meditei.

Aqui senti quem verdadeiramente eu sou.

Este é o tempo de recomeçar.

O apelo da viagem regressou. Não posso continuar camuflado a as asas voltaram a bailar. Recordo a dança dos grous e levanto voo bem alto na direcção dos céus que enfeitiçam o reino do Butão.

Procurarei os templos onde se arquivaram as histórias.

Os monges que os preservam relembram aos mais novos como tudo acontece, como os oceanos longínquos já cobriram todo o reino, como o dia amanhece e a noite cai, como a vida se reinventa, como os sonhos fazem viajar, como viajar, como procurar as respostas às escolhas que terão de efectuar, como falar, como comunicar com os contrários, como sacrificar as vontades, como aprender com os males que carregamos dentro de nós, como ler as histórias escondidas no coração das pedras, como tirar partido do jogo e do eterno fluxo do rio, como pertencer à sua corrente, como derrotar todos os males e como meditar.

Sou o rapaz-pássaro.

Fui o rio, o céu, a floresta e a montanha. Só penso na hora em que estarás comigo pois assim sei que me vês, sei que sabes de mim e temos tanto para contar.


É fácil cair

Impedir o equilíbrio de todos os reinos

Pintar de escuro a natureza

Profanar as montanhas sagradas


Este reino não vos pertence

O céu protege-o

As montanhas abrigam-no

As florestas são os seus pulmões

O tempo vem aqui para descansar

Como as histórias


Aqui se esquecem todos os momentos

Os sentidos ficam mais activos

Ajudam na descoberta

Do verdadeiro Eu


Somos o primeiro habitante do planeta

O primeiro onde habitou a primeira história

Somos aquele onde plantaram todas as dúvidas

Para que a sobrevivência fosse possível


Este reino é a nossa casa

Onde tudo recomeça

Onde os céus enfeitiçam

Onde se arquivaram todas as histórias

Desde o tempo em que os oceanos o cobriam


Este é o reino dos abraços

Onde os monges recordam e ensinam

Como tudo acontece

Como a vida se reinventa

Como se derrotam todos os males

E como meditar

.


Sem comentários:

Enviar um comentário