28 de Junho de 2011
Relembrar as etapas, os néctares, o ar que se levanta fresco e a brisa, a madrugada, os lençóis de espuma que chegam com a maré ao amanhecer.
Rapidamente voar pelos segredos guardados pelas pedras nestes rochedos, na manhã quente de mais um dia de Verão. Domar os cumes das montanhas, desenrolar as vidas que se abrigam nas rochas e que aqui encontraram o lugar devido. Seguir o mar e as planícies e o rio pois neles está contida a peregrinação primeira e os frutos resultantes das lembranças.
Os segredos.
É deles que sobrevivemos, através deles mantemos as dúvidas sobre o que se esconde por detrás da existência, do que nos faz escrever, das recordações das histórias criadas desde a primeira e até da primeira.
Segredos.
O momento em que desvendamos o segredo, em que abrimos essa porta. Ficamos eternizados mas logo outro segredo chega para nos seduzir. Ficamos suspensos pelo maior de todos os segredos, o que em momento algum se desvendará, o que se perpetuará para sempre misterioso, o que alimenta filósofos, peregrinos de todas as humanas raças, o que nos mantém a todos suspensos por finos e frágeis fios de seda.
Lembranças. Segredos e lembranças que desaparecem misteriosamente derrotados pelo deus do tempo.
Dois corpos bailarinos dançam nos céus como garças. Envolvem-se, serpenteiam e unem-se como estátuas de sal e de suor na escuridão da madrugada. Do seu amor nascem as estrelas, suas filhas brilhantes, nascem os cometas, seus filhos aventureiros, nascem os planetas, seus filhos criativos, e nasce o tempo, o filho transformador.
Os amantes fazem do universo o berço, a cama, os lençóis, descobrem todos os segredos das suas peles, revelam enigmáticos prazeres do mais sublime êxtase, decifram os códigos impenetráveis dos seus corpos que estes mantiveram escondidos um do outro até entenderem finalmente tudo o que os une e os separa. Transformaram-se nesse instante, nesse exacto momento, e quando os corpos ganharam a dimensão da unidade o cosmos brilhou intensamente.
Outros corpos bailarinos também dançaram como garças, igualmente se envolveram e serpentearam como estátuas de sal e de suor e pela escuridão da madrugada fizeram luz.
Os braços envolvem o corpo, escondem-se nas ancas abençoadas, descem afagando as coxas, as pernas, os pés, regressam pelo mesmo caminho detendo-se junto ao ventre onde o rosto descansa, se demora pela eternidade de um beijo, beijo que descobre o sexo vibrante, perpetuando o tempo do segredo acabado de desvendar. Regressam a casa, apoiam-se nos seios da bailarina, passeiam pelos mamilos perfumados de jasmim, avançam pela estrada desenhada nas clavículas até aos ombros que passam agora a segurar. Os dedos derivam pelo rosto da princesa bailarina, desenham os contornos dos lábios, do queixo, do nariz, como se os desejassem ter esculpido, segredam aos ouvidos palavras quentes, ternas e eternas, os olhos da amante abrem-se, ao pedido que fazem é dado cumprimento e os dois bailarinos envolvem-se, unem-se, decifram os códigos impenetráveis de seus corpos, meditam como garças e falcões neste momento.
Segredos.
Fazem-nos sobreviver.
O maior de todos esconde-se em quem não somos mas necessitamos conhecer. As palavras desaparecem, os néctares, as emoções, os sabores e todas as fragrâncias se transformaram para se misturarem com o sal e o suor que nos pertencem.
A pele, os ossos, todo o corpo deriva separando-se do segredo e deixando-nos apenas as histórias que passaremos a contar. Serão acrescentadas à primeira.
Ao desvendarem o importante segredo, os bailarinos eternizaram o universo, as galáxias e os ciclones coloridos que foram desenhados na palma da tua mão. O sagrado bailado resultante da sua união, fruto da mais nobre e doce das paixões, dará origem às estrelas, aos cometas, aos planetas e ao tempo transformador.
Segredos
Fazem-nos sobreviver
Seduzem
Quando os desvendamos
Por finos e frágeis fios de seda
O universo é a cama
E os lençóis
Dos amantes bailarinos
Que descobrem todos os segredos
Em sublime êxtase
Decifram os códigos impenetráveis
Dos seus corpos
Ganham a dimensão da unidade
Nesse momento
São garças
E são falcões
Segredos
Fazem-nos sobreviver
Desaparecem com as palavras
E a pele
Os ossos
Todo o corpo
Separam-se do segredo
Que os bailarinos amantes
Acabaram por eternizar
Nesse momento
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